Frota escolar de Parauapebas está sucateada e manutenção é estimada em R$ 2,4 milhões
Não bastassem os gargalos na área da saúde, o prefeito de Parauapebas, Darci Lermen, tem mais problemas nas mãos, agora, na educação. E o efeito negativo atinge a vida de cerca de 13 mil estudantes das redes municipal e estadual, que dependem do transporte escolar, cuja frota de micro-ônibus, adquirida pela gestão anterior em 2013, está parcialmente deteriorada.
Dos 104 micro-ônibus comprados pela Secretaria Municipal de Educação (Semed) naquele ano, por meio de um programa do Governo Federal, 42 estão virando sucata no pátio do Setor de Transportes da secretaria, às margens da PA-275, no Km 57, na saída de Parauapebas. O motivo do descalabro, para além da falta de dinheiro para as manutenções, Darci resume em “falta de bom senso e falta de responsabilidade”.
Na manhã desta quinta-feira (5), Darci e o secretário municipal de Educação, Raimundo Neto, estiveram no pátio a fim de avaliar as condições da frota de micro-ônibus e levantar o tamanho do prejuízo, que, segundo cálculos menos pessimistas do coordenador do Setor de Transportes da Semed, Wanderson da Silva, está em torno de R$ 2,4 milhões para fazer todos os carros voltarem a rodar em estado razoável.
Acompanharam Darci e Neto o assessor de Comunicação da Prefeitura, Laércio de Castro; os vereadores Joel do Sindicato (DEM) e Luiz Castilho (Pros); integrantes do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp), subsede Parauapebas; e a equipe do Transportes da Semed.
De acordo com Darci, que ficou estarrecido com o que viu (veículos com a frente e o interior deteriorados, sem pneus ou com pneus em estado precário, sem estepe, com motor batido, ociosos por falta de peças, com para-brisa quebrado e ou farol queimado), o que está no pátio de Transportes da Semed é o equivalente a uma catástrofe. “Muitos desses veículos precisam de peças que vêm de fora e estão inviáveis para circulação. O gasto com a manutenção chega a ser criminoso”, lamenta o gestor.
PREJUÍZO EDUCACIONAL
A dona de casa Zilma Oliveira, moradora da zona rural nos domínios da Palmares 2, não faz ideia de que 42 micro-ônibus estejam no prego, mas ela sabe bem o que é não poder mandar a filha à escola pela falta deles, circulando plenamente. “Tivemos muita dificuldade com o transporte escolar em 2016. Minha filha, de 8 anos, estuda a dois quilômetros de casa, e por muitas vezes teve de faltar à escola porque falavam que o ônibus estava quebrado. Ué, se estava quebrado, por que a prefeitura não consertava? Eles até anunciaram na TV uns anos atrpas que os ônibus iriam durar não sei quantos mil anos”, relembra Zilma, rogando aos céus que a situação melhore em 2017. “Se eu for contar quantos dias minha filha ficou sem ir à escola por causa de ônibus, vai dar quase um mês”, dispara.
O secretário de Educação, Raimundo Neto, sensibilizou-se com a situação da dona de casa e informou que, na verdade, a aquisição desses veículos onera os cofres públicos muito mais do que a forma como o transporte era gerido em sua gestão à frente da Semed, entre 2005 e 2012. “É um absurdo. Temos 42 ônibus parados cujo gasto ultrapassa a cifra de R$ 2 milhões, de difícil administração. Temos alunos correndo o risco de não ter um bom rendimento porque são impedidos de chegar à escola. Nós, como sociedade, corremos o risco de não atingir as metas de educação por uma imprudência de gestão que reflete na vida escolar de crianças e adolescentes. A situação é grave”, alerta.
E realmente é. Dos 104 ônibus adquiridos na gestão anterior, 62 estão em situação duvidosa. Foram entregues à nova equipe do Setor de Transportes como “bons”, mas alguns deles estão, na verdade, em condições precárias. No fundo, de acordo com Wanderson Bezerra, chefe do setor, “mais que 42 ônibus estão no prego” e, segundo o secretário de Educação, pelo menos 5 mil estudantes — dos 13 mil que dependem de transporte escolar — vão ficar prejudicados no início do ano letivo. Só pneus, faltam 202 — cada um ao custo médio de R$ 800, totalizando R$ 160 mil de prejuízo.
MUITAS CRÍTICAS
Para o vereador Joel do Sindicato, que ficou estarrecido com as condições da frota, a situação vista é praticamente de calamidade pública, sobretudo pelo fato de ser um prejuízo direto à vida dos alunos.
Já o vereador Luiz Castilho, bastante entendido de serviços mecânicos e manutenção de veículos, estimou, por baixo, um custo médio entre R$ 50 mil e R$ 60 mil para reparos individuais nos veículos declaradamente parados. “São lastimáveis as condições em que estamos encontrando Parauapebas, com prejuízo por todos os lados”, indignou-se o parlamentar.
Anunciada três anos atrás pela gestão com pompa e circunstância, a aquisição da frota parecia ser a salvação da lavoura para o que indicaram ser um problema, no caso, o transporte escolar. Em 23 de dezembro de 2013, chegou a ser divulgado na imprensa local que a frota reduziria em 50% o que se gastava com as locações, o que, na prática, não aconteceu. Em 2015 e 2016, começaram a surgir denúncias sobre a deterioração da frota adquirida e muitos pais relatavam dificuldade para mandar os filhos à escola. Atualmente, 40% dos micro-ônibus estão comprovadamente inutilizáveis.
O custo da aquisição foi estimado em R$ 15 milhões, em razão de uma parceria com o Governo Federal via programa “Caminhos da Escola”. Porém, a manutenção apenas com os ônibus parados consumiria, hoje, 16% do valor inicial gasto. Aliás, com o que se precisa gastar para fazê-los rodar daria para comprar 17 novos ônibus.