Estudantes denunciam roubo de senhas no sistema do Sisu

O governo federal flexibilizou, na edição de 2016 do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), as regras de acesso individual dos candidatos aos sistemas on-line. A edição aplicada no ano passado, e usada pelos estudantes para concorrer a vagas no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) deste ano, deixou de exigir a chamada “verificação em duas etapas” para que os candidatos façam login ou recuperem a senha.
Após a mudança, candidatos denunciaram acesso de terceiros em seus perfis pessoais no Sisu e alterações indesejadas nas opções de cursos nos quais concorriam. Um fórum anônimo na internet mostra que internautas disseminaram dicas para “roubar” a senha de estudantes que se destacaram no Enem 2016 e manipular suas participações no Sisu, que usa a mesma senha.
O Ministério da Educação afirmou que o sistema do Sisu tem um nível de segurança elevado, onde qualquer ação realizada nos perfis pessoais são registradas em um histórico. Porém, a pasta ainda não confirmou se as denúncias de roubo de senha procedem. A reportagem procurou o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para perguntar o motivo da flexibilização da segurança de acesso do Enem, mas ainda não recebeu retorno até a publicação desta reportagem.
Três candidatos do Sisu relataram ter tido suas senhas do Enem 2016 supostamente alteradas por terceiros. Uma estudante de Sergipe acabou perdendo a chance de ser aprovada no Sisu por causa de uma alteração em sua inscrição que ela alega não ter feito.
A sergipana Anne Caroline Santos, de 19 anos, tirou a nota máxima na redação do Enem. Ela sonhava em cursar medicina na Universidade Federal de Sergipe (UFS), mas percebeu que não tinha nota suficiente após a divulgação das notas de corte parciais. No domingo (29), no último dia de inscrições do Sisu, ela mudou suas opções: colocou medicina em Mossoró (RN) como primeira opção, e enfermagem na UFS como segunda opção. Sua segunda opção era garantia de aprovação. “Coloquei enfermagem porque tinha pontos suficientes para passar, mas quando fui conferir o resultado estava alterado. Na segunda opção apareceu medicina na Unioeste/PR. Com isso, não senti a alegria de ser aprovada em um superior e agora estou na lista de espera de medicina”, lamentou ela.
O estudante Thales Maciel, de 21 anos, mora em Ribeirão Preto, em São Paulo, e foi aprovado no curso de medicina da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Porém, ele suspeita que foi hackeado, pois durante todo o período do Sisu teve problemas com a inscrição. “Todo dia em que eu tentava entrar no sistema não conseguia acessar e tinha de trocar a senha. Quando conseguia logar via que a minha segunda opção estava sempre mudada. Mexeram nas minhas escolhas todos os dias”, afirmou ele. Em uma das vezes, inclusive, o candidato disse que estava inscrito na Universidade Federal de Goiás (UFG) como cotista, sendo que ele não está no perfil dos contemplados pela lei de cotas, já que fez o ensino médio em uma escola particular.
Thales disse que ficou monitorando o sistema nas últimas horas antes do seu encerramento, às 23h59 do domingo (29), para se certificar que a inscrição estava correta e não correr o risco de ser aprovado em um curso que não escolheu. Ele fez a denúncia ao Ministério da Educação e pretende registrar um boletim de ocorrência.
Repercussão
Tereza Gomes ganhou repercussão nacional quando descobriu ter sido uma das 77 pessoas que conseguiu nota mil na redação. Porém, como suas notas nas provas objetivas ficaram abaixo do esperado, a jovem da Paraíba acabou decepcionada no período de inscrições do Sisu. Após verificar a primeira nota de corte do sistema, ela viu que não passaria nas opções de cursos de medicina que tinha em mente. Portanto, desde sexta-feira (27) ela deixou de acessar seu perfil no Sisu. Ela disse que manteve sua inscrição em duas opções de cursos de medicina, mesmo sabendo que não teria chance de ser aprovada.
A notícia de que seu perfil poderia ter sido invadido veio pelo Facebook no fim da manhã desta terça-feira (31), quando ela recebeu mensagens privadas informando que ela estava na lista de aprovados do curso de produção de cachaça, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Foi então que ela se lembrou de outra mensagem, enviada na noite de segunda-feira (30), de uma pessoa desconhecida, com uma imagem da lista de aprovados no curso do IFNMG. Ela diz que achou que fosse uma montagem e não deu atenção.
“Imagina se eu tivesse média para passar para medicina? Além disso, prejudicou quem queria esse outro curso”.
Em um teste, foi confirmado que a senha da estudante foi alterada. No fórum anônimo onde internautas combinaram tentativas de roubo de senha, a paraibana é uma das vítimas mencionada. Tereza diz que já se matriculou em um novo cursinho, para tentar pela sexta vez conseguir a aprovação na graduação em medicina.
O caso gerou comentários pejorativos nas redes sociais sobre o curso de produção de cachaça e fez com que o IFNMG reagisse. Em seu perfil oficial no Facebook, o instituto reprovou a ação de hackers, mas também exigiu respeito a seu curso de produção de cachaça, oferecido na cidade mineira de Salinas e que, segundo o IFNMG, é o único do país oferecido por uma instituição pública.

Reportagem: ORMNews

Deo Martins

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