Junho Laranja: no mês dedicado à prevenção de queimaduras, pacientes em tratamento no Metropolitano compartilham suas histórias

No último dia 23 de maio, a estudante Tália Cardoso, de 22 anos, recebeu uma ligação que marcaria a sua vida. Na chamada, o pedido de ajuda: “Meu filho acabou de sofrer um acidente e está com a perna e a lateral do peito todo queimado”, disse sua irmã ao telefone.

Na ocasião, o sobrinho de Tália, de apenas sete anos, sofreu um acidente durante uma brincadeira com o amigo. “A bola que eles brincavam caiu perto de uma churrasqueira com álcool e quando ele foi pegar o brinquedo, houve a explosão”, explicou a jovem.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras, anualmente, ao menos um milhão de acidentes com queimaduras acontecem no Brasil, sendo 300 mil deles envolvendo crianças. Esse tipo de ferimento é causado, na maioria das vezes, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos.

O autônomo Daniel Alves é outra vítima de queimaduras. Ele sofreu uma descarga elétrica de 23 mil volts, durante serviços na rede elétrica em Macapá, estado onde mora. “Na hora eu apaguei!”, contou.

Quando acordei e olhei para o meu braço e minhas pernas, confesso que fiquei com o psicológico abalado. Foi muito difícil. Mas percebi que precisava ser forte para continuar meu tratamento”, lembrou Daniel, emocionado.

Os dois pacientes estão internados no Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Metropolitano de Urgência e Emergência (HMUE), serviço de referência na região norte do país. Somente no ano passado, a unidade do Governo do Pará, sob gestão da Pró-Saúde, registrou 399 atendimentos de vítimas de queimaduras, uma queda de 15,65% se comparado a 2019, quando foram registradas 473 admissões na unidade.

Junho Laranja

Neste mês de junho, em que é celebrado o Dia Nacional de Luta contra Queimaduras (6/6), o Hospital Metropolitano intensifica as ações que visam conscientizar a população sobre o tema. A iniciativa integra a campanha “Junho Laranja”, que tem como objetivo, alertar sobre os riscos dos acidentes com queimaduras.

Para fortalecer esse movimento, os colaboradores da unidade apresentam histórias de quem viveu a dor da queimadura. “Nada melhor do que usar a história dos próprios pacientes, internados na unidade, para mostrar o que o manuseio da rede elétrica ou do fogo pode causar na vida”, ressaltou a coordenadora de enfermagem do CTQ do Metropolitano, Nellyane Ferro.

São histórias como a do mestre de obras, Uilton Oliveira, de 38 anos, que teve 35% do corpo queimado. Durante a construção de um imóvel de dois andares em Parauapebas, sudeste do Pará, o ferro que ele segurava acabou tocando em um fio de alta tensão.

Ele explica que na hora não conseguiu soltar o material e ficou por segundos recebendo a descarga elétrica. “Fiquei sentindo a energia passando por dentro de mim e meu corpo esquentando. Não consegui largar o ferro, até que uma hora minhas mãos se soltaram do objeto”, detalhou.

Até mesmo materiais que parecem inofensivos, podem causar risco à vida. É o caso do thinner, líquido solvente utilizado por pintores para limpar equipamentos e tirar restos de tinta da pele. Essa substância, que é altamente inflamável, acabou gerando queimaduras de terceiro grau no catador Jonatha dos Santos, de 27 anos.

O acidente aconteceu durante o trabalho. “Eu ia acender um fogareiro para queimar o material reciclável e um colega deixou um balde de thinner próximo. Uma brasa acabou caindo dentro do recipiente, e aconteceu a explosão. O fogo atingiu minhas duas pernas”, narrou o catador.

Recuperação da mente e do corpo

Todas as vítimas de queimaduras precisam de uma atenção especial da equipe de psicologia do Hospital Metropolitano. São pacientes que tiveram além do seu corpo, a vida social alterada por conta do acidente.

A desfiguração física e estética da vítima traz impactos psicológicos, fazendo com que o paciente precise de acompanhamento com especialista. O processo de recuperação é longo e doloroso, com marcas para a vida toda, e esse suporte profissional é essencial para assimilar as mudanças”, ressalta a coordenadora do serviço psicossocial da Pró-Saúde, Jucielem Farias.

Além disso, o tratamento continua mesmo após a alta hospitalar, podendo durar meses, com a realização de sessões de terapia ocupacional e fisioterapia. Ele é essencial para evitar que a pele grude, enrugue, impeça os movimentos e cause problemas de crescimento, principalmente em crianças.

A pele cicatrizada não tem a mesma flexibilidade de uma normal”, pontua o fisioterapeuta e coordenador de reabilitação, Henrique Gomes. Na avaliação do profissional, “o processo é demorado, exigindo paciência e persistência”.

O Hospital Metropolitano reuniu algumas dicas e orientações sobre o que fazer no caso de acidentes que resultam em queimaduras.

Em casos de queimaduras mais leves:

• Colocar a parte queimada debaixo da água corrente fria por aproximadamente dez minutos;
• Fazer compressas úmidas e frias também são indicadas;
• Ir a uma unidade de saúde mais próxima.

Queimaduras em grandes extensões do corpo:

• Não toque a queimadura com as mãos;
• As bolhas não devem ser furadas;
• Nunca tente descolar tecidos grudados na pele queimada;
• Corpos estranhos ou graxa no local queimado não devem ser retirados;
• Nunca coloque manteiga, pó de café, creme dental ou qualquer outra substância sobre a queimadura. Somente o médico sabe o que deve ser aplicado sobre o local afetado;
• Busque atendimento médico imediatamente.

Diogo Monteiro – Pró Saúde

Deo Martins