Paraense que vivia nas ruas de Brasília consegue voltar para o Pará

Eduardo e Raíza dizem que tem um vínculo muito forte (Foto: Ana Paula Peres/Ascom Adepará)

Um paraense que estava perdido em Brasília conseguiu voltar para o estado nesta terça-feira (19) após passar dois anos morando nas ruas. Eduardo da Silva de Andrade, de 26 anos, contou com a ajuda de voluntários e funcionários da Agência de Defesa Agropecuária do Pará (Adepará) para cruzar os quase dois mil quilômetros que separam as capitais federal e do Pará.

Eduardo nasceu em Castelo dos Sonhos, um distrito de Altamira que fica a 971km da sede do município. Ele deixou sua cidade natal para morar no interior do Maranhão com a meia irmã, que havia conhecido em 2014, para se tratar de uma dependência química – mas acabou abandonado pela nova família no interior de Goiás. Pegando carona, chegou até o Distrito Federal, de onde não conseguiu retornar para o Pará por conta do preço das passagens, que eram inacessíveis para sua renda como engraxate.

No DF, voltou a consumir álcool e drogas. “Tive várias oportunidades de fazer o mal, de me tornar uma pessoa ruim, mas sempre eu acreditava em um poder superior. E dentro desse poder superior eu tinha em minha mente, em meu coração, de manter o que restava de integridade dentro de mim. Meus pais me ensinaram o que era certo e o que era errado e, mesmo em estado de miséria, eu tinha os valores mínimos”, disse Eduardo.

Felizmente o paraense foi encontrado por três empresários, que faziam um trabalho voluntário distribuindo comida e agasalhos para os moradores de rua de Brasília, e se dispuseram a ouvir sua história.

Eduardo morou por dois anos nas ruas de Brasília (Foto: Eduardo da Silva / Arquivo pessoal)
Eduardo morou por dois anos nas ruas de Brasília (Foto: Eduardo da Silva / Arquivo pessoal)

“Ele disse aos empresários que o pai era produtor rural, e quem poderia ajudar a encontrá-lo era a Adepará, onde ele tinha cadastro. Eles entraram em contato e eu comecei a mobilizar recursos. Criei um grupo de WhatsApp chamado ‘vamos ajudar o Eduardo‘, e fizemos uma corrente do bem, trocando informações até chegar a um vizinho de cerca da família”, explica Josué Cidade, coordenador de comunicação da Adepará.

Irmão era tido como morto

A família de Eduardo quase não acreditou quando recebeu a notícia de que ele havia sido reencontrado.  “A gente tinha ele como morto. Meu pai e eu estávamos conformados, mas minha mãe sempre acreditou que ele ia voltar. Sabe como é coração de mãe, né?”, disse Raiza de Andrade, irmã de Eduardo, que veio para Belém para reencontrar com o irmão no aeroporto. “Esse reencontro vai ter muita emoção. A vida agora vai ser bem diferente, porque a gente foi criado junto. Temos muito amor”, explica Raiza.

Eduardo e Raíza dizem que tem um vínculo muito forte (Foto: Ana Paula Peres/Ascom Adepará)
Eduardo reencontra a irmã após dois anos vivendo nas ruas em Brasília (Foto: Ana Paula Peres/Ascom Adepará)

“Eu confesso que não chorei, mas deu uma coisa na garganta”, disse Eduardo ao rever a irmã. “Tô muito feliz e quero agradecer a todo mundo que me ajudou. Há dois anos morreu toda a esperança minha”, destaca o paraense, feliz com o recomeço: “Eu comecei novamente a viver, porque antes eu não vivia, não dormia, não me alimentava. Eu vegetava na rua, andava de um lado para o outro preocupado com o amanhã, o que iria comer, onde iria dormir”.

Retorno para casa
Antes de voltar para o Pará, Eduardo dependeu do compromisso de diversas pessoas, incluindo as polícias do Pará e do Distrito Federal, que auxiliaram na obtenção dos documentos para a viagem, já que ele não tinha carteira de identidade. Agora, de volta ao estado, ele passará por uma bateria de exames médicos na capital, providenciados por seus benfeitores, antes de voltar para Altamira na próxima quinta (21).

Assim que voltar para casa, Eduardo já faz planos para o futuro. “Eu quero poder ajudar minha mãe, o meu pai, que eu soube que ele está doente. Tenho vínculo evangélico e tenho esperança enorme de poder congregar novamente, e também preciso de um emprego para voltar a trabalhar”, conclui.

Reportagem: G1PA

Deo Martins

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