Exposição “Bodanzky: notas de um Brasil profundo” chega a Marabá

 Exposição “Bodanzky: notas de um Brasil profundo” chega a Marabá

Há 28 anos atrás, exatamente no dia 17 de abril de 1996, a terra no sudeste paraense foi banhada com sangue de 19 camponeses ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), brutalmente assassinados em decorrência de uma operação repressiva da polícia militar do estado, num episódio que ficou conhecido como Massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido na Curva do S, da rodovia PA 150, próximo a cidade de Eldorado do Carajás.

Mais um, entre tantos massacres, assassinatos e atos de violência acontecidos num período histórico que se inicia nos anos de 1960, com a ocupação da região amazônica mobilizada Governo da Ditadura Militar e que vitimaram centenas de trabalhadores e trabalhadoras rurais, indígenas, religiosos, sindicalistas, ambientalistas e ativistas de direitos humanos, envolvidos na luta pela terra, por territórios, justiça social e defesa das florestas na Amazônia Oriental.

Do luto à luta, sempre, os camponeses transformaram abril em um mês de mobilização social por Reforma Agrária denominado “Abril Vermelho”, momento em que também é celebrada e homenageada a memórias dos camponeses vítimas do Massacre de Eldorado do Carajás e de outros massacres, no Pará e por todo o país. Nesta perspectiva, na Curva do S da rodovia PA 150, todo ano acontece um conjunto de atividades políticas, religiosas e culturais, que integram a programação do Acampamento Pedagógico da Juventude Sem-Terra.

O Acampamento Pedagógico da Juventude Sem-Terra é o palco principal do 9º Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira – FIA CINEFRONT, onde, por meio da exibição de filmes seguidos de debates, o cinema é assumido como um instrumento de celebração da memória e afirmação dos povos do campo, das águas e das florestas como sujeitos históricos.

Compartilhar obras que revelem a Amazônia como fronteira do humano, marcada por conflitos e contradições, e como front onde sem-terras, ribeirinhos, extrativistas, indígenas e trabalhadores pobres r-existem e transformam tragédias em força propulsora da construção de outros mundos possíveis, de vida digna e plena humanidade, é o que move e dá sentido ao FIA CineFront.

É neste território que há cinquenta anos Jorge Bodanzky têm trilhado e navegado realizando suas produções cinematográficas. Reconhecidamente um cineasta do front, o conjunto de sua obra tem contribuído a denunciar as contradições e tragédias que vitimam seus povos e, assim, a fomentar a construção do pensamento crítico e memória coletiva sobre o processo histórico da ocupação da Amazônia desencadeada a partir dos anos de 1960, na Ditadura Militar no Brasil.

Em 2017, Jorge Bodanzky foi o diretor homenageado no 3º FIA CINEFRONT, esteve em sessões na Terra Indígena Mãe Maria, do Povo Gavião, participou de debate no Acampamento Pedagógico da Juventude Sem-Terra, em Eldorado do Carajás, e apresentou pessoalmente “Iracema, Uma Transa Amazônica” (1974) pela primeira vez em Marabá, no histórico Cine Teatro Marrocos. Se emocionou fortemente e se tornou um dos grandes amigos do FIA CineFront, que todos os anos liga para perguntar o que vai acontecer e propor apresentação de algum filme.

Neste ano, aproveitando seu desejo de estar conosco, sempre, lhe convidamos para nova homenagem, a realização da Exposição Fotográfica “Bodanzky: notas de um Brasil profundo”, que retrata o universo fílmico e imagético de Bodanzky durante a produção de seu filme clássico “Iracema, Uma Transa Amazônica”. Composta por fotografias intercaladas com fragmentos de filmes Super 8, as imagens que constituem a exposição foram selecionadas a partir do trabalho de digitalização dos materiais analógicos do cineasta ao longo dos anos, realizado pelo Instituto Moreira Salles – IMS.

A exposição é fruto de uma parceria entre o FIA CineFront, SESC Marabá, o Pontal Instituto Cultural e a Universidade Federal do Pará, com curadoria de Orlando Maneschy e Jorane Castro, organização de Jairon Gomes e acervo gentilmente cedido por Alessandro Campos, coordenador do Festival do Filme Etnográfico do Pará que foi produtor executivo da exposição.

Orlando Maneschy estará em Marabá, para montagem e bate-papo com o público do festival sobre a exposição. Jorge Bodanzky também, para ministrar um minicurso sobre cinema, apresentar um de seus documentários e participar de roda de conversa sobre sua trajetória e produção cinematográfica na Amazônia.

Segundo Jairon Gomes, “a proposição da exposição e dos diálogos que ela suscita é provocar conexões reflexivas sobre esse Brasil de Bodanzky dos anos de 1970, o período da ditadura militar, com o Brasil e a Amazônia de 2024, é alcançar elementos que permitam compreender mais sobre o lugar que habitamos, a fronteira-front amazônico, pelas lentes e bastidores da produção cinematográfica de Jorge Bodanzky”.

A abertura da exposição acontece no dia 17 de abril, quarta-feira, às 19h, no hall de entrada do SESC de Marabá com entrada gratuita e classificação livre, seguindo aberta ao público até junho.

O 9º FIA CINEFRONT é uma realização colaborativa, envolvendo instituições, organizações e movimentos sociais do sul e sudeste paraense, coordenado pela TramaTeia Produções e o Instituto Zé Claudio e Maria e financiado por meio de Edital da Lei Paulo Gustavo, promovido pela Fundação Cultural do Pará (FCP), Secretaria do Estado de Cultura do Pará (Secult), Ministério da Cultura (Minc) e Governo Federal.

Masterclass com Jorge Bodanzky

Bodanzky apresentará e dialogará com o público sobre o filme “Amazônia, a Nova Minamata?” (2022) e realizará um Masterclass sobre Produção Cinematográfica, nos dias 17, 18 e 19 de abril. A atividade é para o público da área do audiovisual e artes visuais de Marabá e região e terá uma capacidade de participação limitada. As inscrições serão feitas via link que será disponibilizado aos interessados dentro deste perfil descrito acima.

 Confira a programação completa

 16 | Abril (Terça-Feira)

Roda de Saberes no Pontal Instituto Cultural

Roda de saberes com o artista visual Orlando Maneschy no Pontal.

Participação dos artistas visuais de Marabá e região.

Local: Pontal Instituto Cultural.

Endereço: Av. 2000 – Quadra 93, lote 16b – Belo Horizonte.

Dia e horário: terça, dia 16 de abril às 19h.

Classificação livre, entrada gratuita com acessibilidade.

Público-alvo: artistas, professores, estudantes universitários e comunidade em geral.

 17 | Abril (Quarta-Feira)

Sessão Cine SESC

Exibição do filme “Amazônia, a Nova Minamata?” (Jorge Bodanzky, 2022, 75 min).

Local: Auditório do SESC.

Endereço: Av. Transamazônica, 1925 – Cidade Nova, Marabá – PA.

Horário: 14h (início da Masterclass)

Capacidade: 60 pessoas.

Masterclass “Transamazônica, 50 anos depois com Bodanzky

Serviço: masterclass para profissionais da área do audiovisual e artes visuais.

Local: Auditório do SESC.

Endereço: Av. Transamazônica, 1925 – Cidade Nova, Marabá – PA.

Período e horário: dias 17, 18 e 19 de abril das 14h às 18h.

Capacidade: 30 pessoas.

Atividade gratuita e inscrições no link compartilhado.

 Abertura da Exposição “Bodanzky: notas de um Brasil profundo”.

Abertura da exposição com fotografias e obras fílmicas de Jorge Bodanzky.

Curadoria: Orlando Maneschy e Jorane Castro (Belém – PA).

Organização: Jairon Gomes (TramaTeia Produções e Pontal).

Local: Hall de entrada do SESC e Sala de Leitura.

Endereço: Av. Transamazônica, 1925 – Cidade Nova, Marabá – PA.

Horário: 18h (após o primeiro dia da Masterclass).

Classificação livre, entrada gratuita com acessibilidade.

Mediação da abertura da exposição: Jorge Bodanzky, Orlando Maneschy, Evandro Medeiros e Jairon Gomes (TramaTeia Produções) e Marcone Moreira (Pontal Instituto Cultural).

17 | Abril a 31 | Junho

Visitações à Exposição “Bodanzky: notas de um Brasil profundo”

Local: Hall de entrada do SESC e Sala de Leitura.

Endereço: Av. Transamazônica, 1925 – Cidade Nova, Marabá – PA.

Dias e horários: segunda a sexta das 8h às 19h e aos sábados das 8h às 12h.

Período: de 17 de abril até 21 de junho de 2024.

Classificação livre, entrada gratuita com acessibilidade.

Texto: Jairon Gomes.

Deo Martins