Paraense faz enterro da própria perna e encanta com história de vida

Indo na contramão do que é esperado por quem sofre um grave acidente de trânsito, a professora de Inglês, Vanessa Valle, de 29 anos, resolveu usar a internet para contar a sua história que mistura drama e humor. A jovem foi vítima de um acidente de moto em 2015, em Tucuruí, sudeste paraense e, na ocasião, precisou amputar metade de uma perna. A dor da perda de um membro deu lugar ao bom humor e um relato que gerou uma repercussão bem inesperada. Vanessa aproveitou para contar a sua história em um grupo fechado no Facebook: O LDRV. A “tour“, como são chamadas as histórias contadas no grupo, tornou-se uma das maiores já vistas na rede social.

Foto: reproduçāo

No texto, a jovem, que é mãe de dois filhos, um de 10 e outro de 7 anos de idade, começa com um aviso: “Vou contar a minha história, mas não problematizem nem reajam com triste“. Em seguida, ela começa contando um pouco sobre como o acidente aconteceu:
Em maio de 2015, eu sofri um acidente de moto e dois dias após o acidente tive que amputar metade da perna (sem reações tristes, por favor). Como se não bastasse todo esse trauma, vou contar a melhor parte
Na época do acidente, Vanessa foi transferida para um hospital da capital paraense, onde passou por uma cirurgia de 16 horas para tentar salvar o membro, mas sem sucesso. Após acordar da cirurgia, ela percebeu uma movimentação em toda a sua família, em especial no irmão, que ela define como o mais desesperado de todos. Foi nesse momento que ela recebeu a notícia de que a parte da perna amputada tinha sido devolvida pela equipe médica, em um saquinho plástico de supermercado. E, para a surpresa de todas, quem teve o papel de receber o pacote foi justamente o parente mais apavorado.
A partir disso, iniciaram “As aventuras e desventuras da perna“, como a mãe da jovem se refere à história. O primeiro passo da família foi colocar o membro no porta-malas do carro e ir até à delegacia registrar um Boletim de Ocorrência (BO) contra o hospital. Porém, ao chegar no local, os policiais informaram que não havia nenhuma irregularidade e, portanto, não teria motivos para justificar um B.O.
Meu irmão disse que iria jogar no lixo (medida de desespero, não problematizem kkk). O delegado disse que não podia, pois se achassem uma perna, iriam achar que alguém foi esquartejado, haveria investigalçao, etc“, contou a professora na postagem.
Entre as opções que também surgiram para “dar um fim” à perna estavam atear fogo em meio a pneus e enterrar na casa de um desconhecido. Até que uma amiga de Vanessa deu a sugestão de doar o membro para uma faculdade de medicina para estudo. Mas, para a tristeza de todos, a instituição não aceitou a perna, pois a mesma estava muito destruída.
Fiquei empolgada e pensei: ‘é, depois de morta, minha perninha vai servir pra algo’. Chegando lá, eles adoraram a ideia da doação. Quando foram abrir a sacolinha, mano, eles quase caíram pra trás. A perna estava toda destruída. Faltava osso e outras partes (rindo de nervoso kkkk). A bichinha foi recusada novamente, pois não tinha nem o que estudar ali, coitada“, disse a jovem.
Ao mesmo tempo em que uma parte da família e amigos tentava encontrar um jeito de “dispensar” a perna, a irmã de Vanessa começou a procura por uma funerária para tentar enterrar o membro. Depois de diversas tentativas e de uma possível “facada” no bolso, já que o enterro custaria entre R$ 6 mil e R$ 8 mil, uma amiga lembrou que tinha um amigo que era coveiro. E lá foi todo mundo atrás do homem para enterrar a perninha. Chegando ao cemitério, o coveiro topou fazer o enterro e, para a alegria de todos, cobrou uma taxa bem inferior ao que esperavam.
Ele cobrou apenas R$ 100 e minha finada perninha foi enterrada com os indigentes (risos). Minha mãe fala que não queria fazer lápide ‘Aqui jaz a perna da Vanessa‘, com medo de ficar chamando o resto do corpo (risos)“, relatou Vanessa.
A história contada com muito bom humor ganhou uma repercussão inesperada por Vanessa e seus familiares. “Nunca imaginei que muitas pessoas iriam compartilhar e teria essa repercussão toda, eu fiquei muito feliz com as pessoas rindo e muita gente se identificando também, recebi relatos de pessoas que aconteceram a mesma coisa, e isso foi muito gratificante pois vi que não estou sozinha e que de alguma forma o que aconteceu comigo pode inspirar outras pessoas a não desistirem e resistirem as adversidades“, declarou Vanessa.
A professora, que chega a se comparar com uma famosa personagem da série “Grey’s Anatomy” que, assim como ela, também teve um de seus membros amputados, afirma que se sente feliz por, apesar de toda a dor, se tornar uma inspiração para os internautas.
Inicialmente, foi apenas para ser um post de humor, para divertir as pessoas. Depois eu vi que a minha história, mesmo sendo um pouco pesada no começo, teve algo de bom e, com isso, pude passar pelo menos um pouco de inspiração e resiliência para as pessoas. Quero que pessoas que estão passando por momentos difíceis vejam que eles podem ser superados. Que elas vejam que nem todo sofrimento tem que ser eterno. Que por mais difícil que as coisas estejam, sempre tem uma luz“, finaliza a jovem.

Sobre as dificuldades, Vanessa conta que recebe muito carinho dos amigos e familiares e isso tem ajudado muito a superar todas as barreiras que aparecem diariamente. Para se locomover, ela usa uma prótese que ganhou em um sorteio em 2016. Porém, com o tempo, a prótese foi se desgastando e, atualmente, a jovem precisa de um novo equipamento. Se você tiver o interesse em ajudá-la, basta entrar em contato pelo telefone (94) 98124-2744 ou através de suas redes sociais: Facebook e Instagram.
Reportagem: Paloma Lobato/DOL

Deo Martins